Azeitonas.

Quantas mulheres são necessárias para abrir uma lata de azeitona?

Bem, a problemática da: Abertura das Latas, tem sido estudada há alguns anos, criaram aqueles dispositivos de ar, um negocinho branco em cima da tampa, mas nem todas têm; criaram aquelas que já vem com o arco para furar, como as de molho de tomate, mas o complicado é quando é de vidro, já inventaram copinho de plástico,mas os melhores e mais gostosos são esses há moda antiga, é inadmissível nós, mulheres do século 21, ainda dependermos de:

- Beinhêê... abre essa lata aqui pra mim?

- Vou já, doçura, espera que o timão ta atacando.

- Amorzinho, mas se o jogo acaba e não tem comida, vai sobrar pra mim....

- Que é isso, paixão? Ta no inicio do segundo tempo, relaxa só um minutinho...

E então resolvemos tentar sozinhas. Primeiro seguramos a lata com a mão esquerda, tranqüila, pegamos um pano e envolvemos a tampa, em meio a caretas e esforços, não ouvimos sequer ela se mexer. Tudo bem, segunda idéia, senta-se no balcão da cozinha, coloca-se a lata entre as pernas, usa as duas mãos, uma força sobre-humana contorcendo não só os músculos do braço mas toda e qualquer elasticidade que puder existir na face para aquela careta. E nada. Terceira tentativa, nervos quase a flor da pele, as mãos já estão vermelhas e sensíveis, algumas unhas já foram quebradas, seu cabelo está assanhado, mas abrir essa DROGA DE LATA é uma questão de honra. Então você analisa bem a lata, cerra os olhos ao encarar essa talzinha de Azeitona Verde Fresquinha Sem Caroço, a luta está só começando, a arma secreta... a faca! Sem pena, você vira a lata ao contrário, esfaqueia compulsivamente a parte em que a tampa foi enroscada, sua expressão muda, o que interessa não é mais nem tanto abrir, mas vencer aquela arquiinimiga, você deseja matar todas as azeitonas, extingui-las do mundo, quer quebrar aquele copinho de vidro com suas próprias mãos, você esfaqueia todas as vezes que foi vencida por ela, você nunca mais vai depender de outros, você ...você..... vai parando com calma o ritmo "sanguinário" e percebe que não está adiantando de nada. De absolutamente nada. Mas, somos mulheres, não nos daremos por vencidas. Você senta de frente para sua Adversária de 200g tentando enganá-la (e a si mesmo), pega rapidamente coloca de baixo do braço esquerdo e faz novamente uma força descomunal girando e.... nada. Você sente que vai chorar, de raiva!

Nesse momento, com bolhas na mão, esmalte (recém feito) descascando, descabelada, com uma feição iracunda, bíceps doloridos, jamais daria o braço a torcer e pediria novamente pra ele. Então, é hora de pedir socorro....ligar para a vizinha.

- Amiga, ta em casa?

- Sim... Por que?

- Lata de azeitona – você fala cabisbaixa, quase admitindo a derrota.

- To indo! – Ela responde entendendo tudo!

Como ela não precisa bater, vai direto para a cozinha, falando um Oi rápido para o rapaz estirado no sofá, que sequer nota a entrada.

Muito bem, agora são duas. Uma segura a outra gira. Depois uma gira e a outra segura. Depois uma pega a faca e a outra pensa. Depois uma tem as bolhas da mão estouradas, e a outra uma quase distensão muscular no braço direito.Então....uma liga para uma outra amiga....que liga pra outra...pra outra...

Mais uma, mais briga. Mais outra. A cozinha está repleta de mulheres corajosas que jamais se deixarão vencer. Planos são traçados, estratégias de ataque, já existe óleo na tampa, nas roupas, na parede, mãos sangrando, olhos lagrimando, punhos cerrados....

Elas se sentam no chão confabulando qual será o próximo procedimento. Então, ouvindo o barulho estranho, do...silencio, ele levanta e vê a lata de azeitonas no balcão. Calmamente abre, sem esforço, sem caretas ou sangue inocente derramado. E diz:

- Era só essa?

Como não se brinca com mulheres lutando por sua própria honra, elas dizem quase em coro.

- Não,não...Hoje é canja!