Anos iam se passando, ela ia crescendo em graça e estatura, brincava dizendo que quando crescesse ia ser contadora de história, depois que ia ser uma fada azul, um dia confessou querer ser astronauta, no outro advogada de personagens de história em quadrinhos, mas secretamente confidenciava a suas bonecas que, na verdade, preferia era não crescer. Suas imaginações e fantasias não paravam, na mesa tinham de deixar um lugar para o Rei da Terra dos Dragões-Arrependidos, no outro dia jurava ter visto as nuvens apresentando espetáculos com os raios de sol, relatava conversas enormes que tivera com seus peixinhos, explicava problemas acontecidos no mundo das fadas. Mas adolescência ia chegando, e sua mãe não concordava com seu pai, que ao invés de começar a tolir a fértil imaginação da filha, insistia em fazer comnque ela criasse cada vez mais mundos e fundos em sua mente.
Um dia, o pai chegou com seu presente de 15 anos, era um livro lindo sobre princesas e reinos, letras douradas, na primeira página uma linda dedicatória. Porém, escondida no armário, ouviu uma discurssão de seus pais sobre ela. Engoliu o choro teimoso e prometeu para si mesma que iria se controlar para não ser descoberta. Entao, ouviu o estrondo da porta da frente sendo batida com força, e logo em seguida, um barulho ainda maior, imediatamente gritos de socorro, ajuda, ajuda, alguém ligue para ambulância. Mas, ela não precisava ir lá fora, correu para o quarto, abraçou o livro, e falou em voz alta para quem quisesse ouvir, seu pai jamais morreria! (pelo menos, para ela).
Neste dia, decidiu que não faria sua mãe sofrer mais, se era por ela que seu pai bravamente lutava, ela mesmo colocaria um ponto nisto, e entao, se calou. Deixou sua imaginaçao viver apenas dentro de si mesma. Dia após dia sufocava seus unviersos, amordaçava seus brinquedos, e os trancafiava em sua mente.
A partir daí, toda noite era assim. O livro. A saudade. O sono. O sonho. O universo. O lençol azul escuro. A gravidade. O susto Despertador.
Hoje a saudade estava tao dissimulada que tudo que olhava parecia rir da sua dor. As nuvens da ida pra o trabalho, as conversas nas repartiçoes, as músicas do vizinho, até a sopa de letrinhas que comera antes de dormir!
Mas esta noite seria diferente. Ela pensara em um plano.
Leu seu livro quase sagrado, beijou-o-lhe a capa, porém, não chorou. Deitou-se e e viu seu pai, ouviu seu nome e o eco brincando, e avistou seu heroi correndo em sua direção, entao, gritou:
- Nãaaao!
Subitamente o pai freia. Ela sorri nervosa, poucos metros de distância os separam.
- Pai, o senhor consegue voar?
Ele balança a cabeça positivamente.
- Então, sobe, sobe o mais alto possível, e ... espera por mim.
O lençol azul escuro vem vindo do céu, o pai e a filha correm desesperadamente para direções opostas, o pai alça vôo, e a filha, que quase já não consegue respirar, acorda em um salto. Corre em uma aflição extrema com o pouco de fôlego que tem, alcança a rua e olha inquieta para todos os lados, a rua está deserta, e a madruada desponta, o seu ar é rarefeito, mas ela precisa lutar! Enfim, avista o vendedor de balões do parque, não conseguindo conter as lágrimas ela compra todos os balões coloridos, grandes e pequenos, azuis, cor de rosa, vermelhos, amarelos e brancos, em forma de coraçao, de estrelas e borboletas; segurando com toda a força, a pouca que lhe resta, a emoçao lhe deixava quase asmática, entao salta, e finalmente, ganha o céu.